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  • Foto do escritorGilmar Silva

O Circuito Turístico da lendária Pedra do Baú

Como ensina o montanhista mais célebre do século XX, Alexander Supertramp, “a felicidade só é real quando compartilhada”. E visitar a Pedra do Baú e os seus arredores é uma experiência transformadora que merece ser vivida por todas as pessoas.

O que é que tem lá cima?

O alto das montanhas sempre intrigou o homem. Mais pelo fascínio e curiosidade do que pelo desafio do risco. Em toda a história da humanidade os grandes picos de altitude sempre foram considerados lugares místicos ou sagrados. Na Grécia Antiga o Monte Olimpo era a residência dos deuses. Na mitologia Taoísta, os imortais viviam nos montes mais altos. No Brasil o Monte Roraima é considerado a morada do Deus Macunaíma. No folclore japonês as montanhas são sagradas e o Monte Fuji, por exemplo, era até pouco tempo considerado por muitos uma passagem para outro mundo. Ainda no tópico de paraísos na terra, o mundo sagrado de Shangri-la para os tibetanos pode ser alcançado pelas montanhas do Himalaia. E mais recentemente na literatura moderna muitos escritores foram para o alto das montanhas a fim de se redescobrirem. Como é o caso de Jack Kerouack, Thoreau e Jon Krakauer, este último autor da biografia do andarilho Chris McCandless, o Supertramp, que inspirou o cultuado filme Na Natureza Selvagem.

pedra do baú
Pedra do Baú - 1950 metros de altitude

Não é perigoso, é revelador

Mas esse aspecto de transformação pessoal/mística experimentado por quem sobe uma montanha hoje em dia muitas vezes é ofuscado por uma ideia equivocada muito forte em quem vive em centros urbanos: a ideia de que práticas como o trekking e o montanhismo são atividades radicais, de risco e que exigem muito do corpo. Algo reservado a poucos aventureiros super bem preparados. Quando na verdade subir uma montanha é algo que está ao alcance de todos. Uma prática que pode ser encarada e vivida por todos. E o melhor: uma prática que costuma culminar numa sensação de algo sublime, uma sensação que só o contato estreito com a energia e imensidão da montanha consegue despertar, um sentimento que se aguça com a vista maravilhosa do cume e que nos permite enxergar e sentir que fazemos parte de um todo muito maior, um todo que nunca vamos compreender, mas que de repente passamos a sentir orgulho de pertencer. A natureza.

pedra do baú
O barato do Montanhismo: Se sentir pequeno, mas ao mesmo tempo importante. Parte de algo maior. Foto: Rapel SP

A nossa pedra!

Em Campos do Jordão são muitos os picos que possibilitam essa experiência mais íntima com a natureza, mas dentre todos a Pedra do Baú se destaca. A Pedra do Baú é sem dúvida um dos cartões postais mais marcantes da cidade. É comum guias turísticos e materiais de divulgação sobre Campos trazerem imagens da pedra. Ainda que a pedra esteja localizada na cidade de São Bento do Sapucaí, a formação rochosa é um dos principais pontos turísticos de Campos do Jordão devido o fácil acesso a ela encontrado no município.

pedra do baú
Campos do Jordão - Pôr dol Sol com vista para a Pedra do Baú.

Outro motivo pelo qual a pedra é tão querida por Campos do Jordão é a vista privilegiada que a cidade tem para ela. Uma vista bem mais majestosa que a de cidades vizinhas. Isso porque vista da área urbana de São Bento do Sapucaí a pedra é estreita; de Sapucaí-Mirim vê-se o contorno de uma lasca de pedra; de Pouso Alegre a imagem que temos da pedra é chata e larga, mas vista de Campos do Jordão é linda, ampla, um ‘baú de pedra” compacta.

pedra do baú
Pedra do Baú vista de Campos do Jordão. À esquerda a Pedra Ana Chata, no meio a Pedra do Baú e à direita o Baúzinho,.

Origens

A Pedra do Baú era chamada pelos índios de Embahú (“ponto de vigia” em tupi-guarani). Após as primeiras expedições bandeirantes pela serra da Mantiqueira a pedra passou a ser chamada de Pedra da Canastra (baú grande de guardar pertences), nome dado pelos tropeiros e caboclos da região. Hoje, no entanto, o nome Baú consegue agradar até os historiadores mais puristas, e presta tributo aos dois nomes originais da pedra.

Pedra do baú
Sempre presente – A Pedra do Baú faz parte do plano de fundo de Campos do Jordão.

Os Pioneiros

O imenso Baú sempre instigou a curiosidade de muita gente. Lendas dão conta que muitos caboclos, tropeiros e fazendeiros acreditavam que havia um “tesouro dos índios” escondido numa gruta, no alto da pedra. E foi esse tesouro que levou os irmãos Antônio e João Cortez a escalarem a pedra. E reza outra lenda foi numa noite de sono agitado em 12 de agosto de 1940 que Antônio sonhou que estava próximo à pedra e uma mulher desconhecida indicou-lhe o lugar onde ele poderia subir. O aventureiro então acordou de sobressalto às três horas da manhã, chamou o irmão e ambos seguiram para a pedra. Lá chegando, Cortez logo identificou o local indicado no sonho e iniciou a escalada. E após onze longos anos de tentativas frustradas Antônio Cortez foi o primeiro homem a subir e correr sobre a pedra, de ponta a ponta.

Anos 40 – Escadinhas da face norte da pedra.

Foi assim, sem equipamentos apropriados, sem conhecimento da arte da escalada, sem mapas, apenas guiados por um sonho que os irmãos Cortez conquistaram o topo do Baú. Uma proeza até hoje considerada um marco no montanhismo brasileiro pela ousadia e coragem.

Pioneiro – Antônio Cortez, primeiro homem a escalar a Pedra do Baú.

E como conta o historiador Pedro Paulo Filho, o espanto na época foi geral. Quando os primeiros raios de Sol iluminaram a pedra, os lavradores da redondeza viram um homem correndo no alto da pedra. Muitos chegaram a pensar que se tratava do diabo em forma de gente, pois jamais alguém havia realizado tamanha façanha. Lá em cima, no entanto, os irmãos Cortez não encontraram nenhum tesouro, mas fizeram algum dinheiro dois anos depois do feito, quando foram encarregados da obra de construção das escadas que hoje possibilitam que qualquer pessoa suba a lendária Pedra do Baú.

Abrigo Antônio Cortez – Um chalé montanhês no alto da Pedra do Baú.

Além das escadas, os irmãos Cortez também participaram da construção de um chalé em cima da Pedra do Baú.  A construção foi patrocinada pelo visionário empresário Luís Dumont Villares, neto de Santos Dumont. Villares era proprietário de uma fazenda em São Bento do Sapucaí com vista privilegiada para a pedra, e esta fascinava a todos de sua família. Encantado com a ideia da possibilidade recente de atingir o cume da pedra o empresário entusiasmou-se e decidiu bancar também a  construção da obra do primeiro abrigo de montanha do país. Para tanto convocou outro visionário, o engenheiro Floriano Rodrigues Pinheiro. O resultado foi um chalé de tijolos e madeira no topo da pedra. De portas abertas para o pernoite de qualquer  aventureiro, a casa tinha um inovador sistema de armazenamento das águas das chuvas, lareira e um livro de cume no seu interior para relato das histórias de quem passava por lá. Hoje, infelizmente, do chalé só restam partes da fundação da obra. Durante anos vândalos subiram a pedra para saquear e degradar o chalé o que levou à destruição completa do abrigo.

No convite de inauguração lê-se: O abrigo Antônio Cortês foi construído em cima da Pedra do Baú à 1900 metros de altitude. Tem uma sala com lareira e um dormitório com 13 camas de campanha. É público e aberto aos turistas que desejarem pernoitar. A Pedra do Baú foi escalada pela primeira vez em 1942(“sic” erro do material de divulgação, o correto é 1940) pelos irmãos Antônio e João Cortês.
Convite para a inauguração do abrigo Montanhês: Teve bom, teve até churrasco! 🙂

Ecoturismo

Graças aos irmãos Cortez hoje milhares de pessoas podem subir até o topo da Pedra do Baú e se encantar com a vista panorâmica da mata atlântica, do Vale do Paraíba e do Sul de Minas. O conjunto de montanhas rochosas da Pedra do Baú é formado pelas pedras do Bauzinho, Baú e Ana Chata. O ponto culminante fica a 1950 metros e a vista exuberante atrai milhares de turistas todos os anos. E o Circuito Turístico da Pedra do Baú conta com uma infraestrutura que abarca diversas práticas de esportes ao ar livre, com agências de turismo ecológico e de aventura certificadas que prestam tais serviços, bem como um polo de hotéis, pousadas e restaurantes que servem de base para os turistas.

Especialistas costumam chamar formações rochosas de acidentes geológicos. Nós do Boulevard Geneve chamamos de obra prima.

Qual a boa?

Montanhismo: Várias trilhas circundam o Bauzinho, Baú e Ana Chata e levam ao cume dessas montanhas. Todas brindam os visitantes com vistas incríveis.

A mais fácil exige apenas 10 minutos de caminhada e leva ao cume do Bauzinho, também chamada pelos locais de Pedrinha. Mesmo pessoas da terceira idade (claro que com os joelhos e a saúde em dia) e crianças tiram de letra a empreitada . Já o topo de Ana Chata é mais desafiador e exige mais esforço, entre 2 a 2h30 de caminhada, passando por uma gruta onde os morcegos dormem durante o dia.

Bora?

Mas a que oferece mais emoção e um visual espetacular durante a subida é a rota dos irmãos Cortez para a Pedra do Baú, com cerca de 4 horas de duração(trilha mais subida). Existem duas opções de trilha, ambas contam com uma escada de ferro que vai do pé ao cume. A da face norte, voltada para cidade de São Bento do Sapucaí apresenta às costas do visitante desde os primeiros metros a real dimensão da altura que está sendo vencida. Já o acesso ao cume pela face sul, voltada para Campos do Jordão não é tão exposta. Os mais amedrontados encontram no lado sul às suas costas a mata atlântica que dá uma sensação de maior segurança, uma vez que mascara um pouco a altura. Escalada em Rocha: Considerado um dos polos mais importantes de escalada do Brasil, cujas vias foram abertas nos anos 70. Para aqueles que dominam suas técnicas e com equipamentos apropriados, existem mais de 80 vias de escaladas catalogadas com diversas graduações, modalidades (livre, artificial e big wall – que necessita pernoitar na parede), atendendo tanto os iniciantes quanto escaladores mais experientes.

Rappel: Técnica de descida por corda utilizando equipamentos de escalada. É praticado no Bauzinho e na Pedra do Baú, sendo o mais indicado para os iniciantes a pedra da Ana Chata. É imprescindível o acompanhamento de guias qualificados.

Voo livre: A quatro quilômetros do estacionamento do Bauzinho está a rampa de voo livre e paraglider. Quem nunca voou, pode experimentar a emoção de voar como os pássaros através do voo duplo.

B.A.S.E Jump: Há poucos anos os praticantes da modalidade B.A.S.E Jump (A sigla B.A.S.E. quer dizer “Building Antenn, Spam & Earth”, ou em português “Prédio, Antena, Ponte e Terra”) descobriram o potencial de saltar do cume da Pedra do Baú com seus minúsculos paraquedas de abertura rápida. Um dos esportes mais radicais, onde qualquer erro pode ser fatal. Não precisamos alertar que é só para profissionais ne?!

Mountain Bike: A Região montanhosa da área da Pedra do Baú possui estradas, trilhas e campos ideais para se pedalar. A equipe da Caloi utiliza a região para treinamento, por combinar grandes desafios com altitude elevada. Através da estrada que liga Campos de Jordão a São Bento do Sapucaí, é possível tomar um acesso até o distrito de Luminosa. Esta estrada possui 18 km de enormes descidas e um visual deslumbrante.

Importante: na área da Pedra do Baú não é autorizada a instalação de barracas para camping. Antes de qualquer decisão procure um local particular para sua instalação.

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Enfim, saiba o que você vai encontrar lá em cima...


A resposta para quem ainda se pergunta o que irá encontrar em cima da pedra mesmo depois de tantas pistas durante o texto é a seguinte: Em cima da Pedra do Baú você encontra algo como aquela paz que sentimos ao ver as ondas do mar quebrarem na praia ou então a sensação de bem estar que temos ao ver as copas das árvores dançando com o vento. Uma sensação maravilhosa de estar vivo e se sentir mais do que vivo, se sentir parte desse todo maior chamado NATUREZA. E isso vale cada gotinha de suor derramado. Pois é… os índios estavam certos. Sempre houve um tesouro em cima da Pedra do Baú.

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Programe sua aventura:

#1 Consulte a previsão do tempo. Com chuva e raio o passeio torna-se extremamente perigoso. #2 Informe-se quanto à duração média e o grau de dificuldade das trilhas. É recomendável a contratação de guias experientes da região. #3 O sol na montanha é mascarado pelo frescor da altitude, por isso, utilize sempre o protetor solar. #4 Deixe sempre alguém que não estará presente no passeio informado sobre sua programação, desta forma, saberão encontrá-lo se houver algum imprevisto. #5 Controle a duração da aventura para voltar antes do sol baixar promovendo total escuridão nas trilhas de mata fechada. Por precaução tenha sempre uma lanterna com pilhas novas na mochila. #6 Leve água (muito importante), lanches, sacos de lixo e agasalho para encarar os ventos gelados que sopram no topo da pedra. #7 Respeite a flora e a fauna, seja cortês e traga seu lixo de volta. Como chegar

O acesso ao Circuito Turístico da Pedra do Baú via Campos do Jordão se dá pelo bairro Jaguaribe que dá acesso à estrada da Campista (ou Caminho da Pedra do Baú). A estrada desde o início impressiona pelas belas paisagens e na altura do km 8 o motorista visualiza a estrada de acesso ao estacionamento do Baúzinho. A entrada é bem sinalizada e do centro de Campos até o Baúzinho são 12 km de asfalto e 10 km de terra em boas condições.

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fontes: Vale Aventura | Campos do Jordão Cultura | Extremos Mais informações: www.pedradobau.com.br  Para Mapas e trilhas,clique aqui. ***

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